sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Nota sobre o afeto

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Qual o preço que se paga por ser emocionado?

Numa sociedade imediatista, feita de mensagens na velocidade 2x e de relações líquidas, ser sensível parece ter virado um sinal de fraqueza. Em tempos assim é preciso muita força e coragem para abrir o coração e demonstrar, em palavras ou gestos os sentimentos mais latentes, com os seus defeitos e virtudes.

Em meio a dureza do mundo e do julgamento nos tribunais da internet, a sensibilidade demonstrada de forma sincera e livre de desejos egoísticos tem assumido um aspecto característico de pessoas fracas, aos olhos dos juízes da postura alheia. Mas fica a pergunta, quanta coragem é necessária para olhar nos olhos de alguém e dizer “eu te amo!”? Suponho que a imensa maioria das pessoas responderia que seria necessária uma coragem colossal para tal ato. Igualmente pergunto, qual foi a última vez que você olhou nos olhos de alguém importante em sua vida e, de forma honesta, afirmou para essa pessoa “eu amo você!”, “você é importante pra mim”, “você é uma pessoa especial em minha vida!”? A resposta seria dias, meses ou anos? A depender de quanto tempo, é possível afirmar que a fragilidade está no interior de quem julga, não de quem expressa.

E essa fragilidade cria uma armadura, na qual a pessoa se esconde, pois acredita que isso a protege. Só quando se quebra é que se percebe o quanto essa casca era frágil e que de algum modo imaginávamos que ela nos fazia mais fortes. Ledo engano, a fortaleza, na verdade, está dentro de quem tem coragem suficiente de correr o risco de ser tomado por tolo ao dizer o que sente e a fraqueza reside no interior de quem não sabe acolher o afeto ofertado. E aqui falo do amor em suas mais diversas dimensões e resultados, pois quem ama perdoa, compreende, acolhe, seja o amor romântico, característico dos casais, fraternal quando direcionado aos bons amigos que a vida nos proporcionou ou o amor incondicional que sentimos pelos nossos filhos.

Ser emocionado é um exercício diário de autocura, na medida em que nos expomos de maneira demasiadamente humana como também nos preserva da culpa e do arrependimento pelo sentimento não expressado que depois, pelas vicissitudes da vida, se tornou tarde demais. Por outro lado, certamente a vida não é uma linha reta, não temos uma existência cartesiana e que chato seria se assim fosse, não é mesmo? O amor, por vezes, pode nos causar dor, angústia e sofrimento por mais incoerente que isso possa parecer. Mas é em meio a esse redemoinho emocional que o sentimento expresso evidencia a sua relevância. Afinal, não se cura uma ferida cravando repetidamente uma agulha nela. Pelo contrário, limpa-se o machucado, ministramos a medicação adequada e finalizamos colocando o curativo até que a pessoa esteja totalmente recuperada da lesão. Ou seja, estamos falando de cuidado, proteção e zelo, formas de expressão de amor, formas de ser “emocionado”.

Assim, não esperemos a oportunidade “adequada” ou a “hora certa” pra dizer o que sentimos às pessoas que são importantes em nossas vidas. Sejamos corajosos e não nos sintamos culpados por colocar em palavras e gestos para alguém justamente o que há de melhor em nós. Não sejamos escravos da opinião, covardia ou da falta de maturidade emocional alheia. Tenhamos muito cuidado com a indiferença e o descaso sentimental, pois eles nada mais são que um adeus não dito. E exercitemos a grandeza de espírito e a responsabilidade afetiva nesse dinamismo diário que é a vida humana, demonstrando os melhores sentimentos para com aqueles que são importantes pra nós, seja um cônjuge, pai, mãe, irmãos ou seu bichinho de estimação.

Como diz o poeta contemporâneo Zack Magiezi “Nem tudo são flores, mas tudo é semente”. Então, que semeemos o bem.


Emiliano


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