quinta-feira, 12 de junho de 2025

(Com) tato

https://unsplash.com/pt-br/@rodlong

Não sou muito adepta das modernidades. Sempre demorei um pouco para ceder às novidades. Não é protesto, nem vaidade não. É uma certa lerdeza na mudança de hábito, abestalhamento puro e simples. Por exemplo, quando finalmente eu aderi às redes sociais e entrei no orkut ele já estava obsoleto... o lance era o Facebook ... quando entrei no Facebook o lance era o WhatsApp. Instagram entrei um dia desses e twitter eu ainda nem entrei… na verdade, nem compreendo bem pra que serve afinal. Mas tenho a ligeira sensação que se passar o resto da minha vida sem twittar, isso não vai me fazer a menor falta. Não me importo muito com isso. Mas certos modismos cansam a minha já escassa beleza. Já fui expulsa de algum grupo por falta de participação (fazer o quê?). Porém tenho a estranha mania de cumprimentar as pessoas desconhecidas com quem cruzo na rua. Já criei amizades assim. De tanto cumprimentar a pessoa, passamos a conversar. E hoje foi um desses dias... de tanto receber meu “bom dia” a senhora com quem cruzo quase todas as manhãs vira pra mim e pergunta de onde eu a conhecia. Papo vai papo vem, de repente tinham se passado mais de trinta minutos e eu ouvi pelo menos metade da vida da desta senhora. Uma lição de vida. Uma mãe, uma avó, uma guerreira, uma heroína. Cheguei atrasada no trabalho, mas valeu a pena. Desculpem amigos do face e watts se nem sempre dou bom dia, ou parabéns, se nem tudo que faço eu posto, se nem tudo que postam eu curto, eu também não ligo quando ninguém curte o que eu posto. É que tem alguma coisa estranha em mim, que me faz sentir mais falta de abraços que de likes. Numa palestra a amiga Lilian Saturnino disse uma vez “quando sentir saudade de alguém NÃO LIGUE. VÁ ATÉ LÁ!” E de repente percebo o quanto isso se tornou difícil nos dias de hoje, mais difícil que conversar com uma estranha no ponto de ônibus. Mais difícil que admitir pra um amigo quando não estamos bem. Mais difícil que ter tempo pra visitar aquela prima que não se vê faz muito tempo. Nós precisamos resgatar nossos contatos físicos... o olho no olho... o ouvir o timbre da voz... o sentir o outro. O contato com tato tem um valor inestimável. Pratiquemos!!!!


Milk

terça-feira, 6 de maio de 2025

Acolhida


https://unsplash.com/pt-br/@anastasiavitph

 















há braços que aquecem

há braços que protegem

há braços que acolhem

há braços que envolvem

há braços que devolvem

há braços que curam

há braços que beijam

há braços que almejam.


Emiliano.

sábado, 15 de março de 2025

Bruxas


@flaviodutka



















sob o signo da fêmea  

ascende as quatro luas 

já não sou mais eu 

já não sou mais tua 

feiticeiras dançam 

em minhas veias  

corrupiam nas fogueiras 

livres 

ébrias 

nuas 

as deusas que eu adoro 

inventaram o deus  

que tu cultuas 

não carrego cruzes 

nem coroas de espinhos  

o sofrimento não me estua 

pelo regimento de decrépitos reis 

pago o dízimo sem lamento 

todo mês que se menstrua 

não me pertence tuas leis 

obedeço apenas três mandamentos

ame

plante

evolua


Milk

terça-feira, 4 de março de 2025

A poesia ainda vive





Foi há mais ou menos 10 anos atrás, que 2 amigos poetas idealizaram fazer uma página na internet onde pudessem publicar seus poemas e, dessa forma, poder dar vazão às suas criações.

Confesso, nossa intenção principal era poder ter um meio de compartilhar nossos poemas com alguns poucos amigos e ter um outro lugar onde salvá-los que não fosse uma pasta no computador ou um caderno velho de escola.

De uma conversa de fim de tarde, regada a café para a estréia do Refúgio dos Poetas Amadores passaram-se 2 anos. Parece muito tempo, né?! Mas foram necessárias várias outras xícaras de café para chegar naquilo que queríamos de verdade, a começar pelo nosso texto de apresentação.

Então em setembro de 2017 fizemos nossa primeira publicação. Não vou negar foi emocionante demais, mesmo sabendo que a essa altura os blogs já estavam fora de moda, não nos importamos. Era apenas o nosso despretensioso sonho de compartilhar nossas composições se tornando realidade.

Agora podemos ver nos números o quanto esse sonho cresceu. São 83 publicações, 24 seguidores, 22 colaboradores artistas visuais, 1 parceria incrível com a escola de teatro Taberna das Artes e mais de 11.700 visualizações, vindas de 19 países. Para nós, as visualizações são mais que dados, são gestos de carinho, são sentimentos, são poesia pura.

E por essas manifestações de afeto estamos profundamente gratos, à todos vocês que encontraram no nosso Refúgio um abrigo de sentimentos, fossem eles difusos ou confusos, alegres ou tristes, reais ou fictícios, afinal eram apenas sentimentos… apenas poesia.

Porque a poesia ainda vive, ainda resiste, a despeito das telas ligeiras, dos textos de AI, da falta de foco em qualquer coisa que tenha mais 60 segundos… a poesia ainda está aqui, ainda reside em nós. Que possamos beber dela sempre que possível e sempre que possível compartilhá-la.

Atendendo aos seguidores este ano nos aventuramos no Instagram. Ainda estamos aprendendo a navegar por novas águas, mas o blog sempre será nosso Refúgio, nosso lar, onde receberemos todos de braços abertos e poemas incertos e sinceros, sem pressa de sermos grandes, sem intenção de sermos muitos, queremos apenas continuar a servir poesia, a ser esse abrigo virtual onde semeamos e colhemos sentimentos. Então, como costumamos dizer, s’il vous plaît… sirva-se, emocione-se e apaixone-se. 


Sempre que puder…


Refúgio dos Poetas Amadores

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Nota sobre o afeto

https://unsplash.com/pt-br/@derickray

Qual o preço que se paga por ser emocionado?

Numa sociedade imediatista, feita de mensagens na velocidade 2x e de relações líquidas, ser sensível parece ter virado um sinal de fraqueza. Em tempos assim é preciso muita força e coragem para abrir o coração e demonstrar, em palavras ou gestos os sentimentos mais latentes, com os seus defeitos e virtudes.

Em meio a dureza do mundo e do julgamento nos tribunais da internet, a sensibilidade demonstrada de forma sincera e livre de desejos egoísticos tem assumido um aspecto característico de pessoas fracas, aos olhos dos juízes da postura alheia. Mas fica a pergunta, quanta coragem é necessária para olhar nos olhos de alguém e dizer “eu te amo!”? Suponho que a imensa maioria das pessoas responderia que seria necessária uma coragem colossal para tal ato. Igualmente pergunto, qual foi a última vez que você olhou nos olhos de alguém importante em sua vida e, de forma honesta, afirmou para essa pessoa “eu amo você!”, “você é importante pra mim”, “você é uma pessoa especial em minha vida!”? A resposta seria dias, meses ou anos? A depender de quanto tempo, é possível afirmar que a fragilidade está no interior de quem julga, não de quem expressa.

E essa fragilidade cria uma armadura, na qual a pessoa se esconde, pois acredita que isso a protege. Só quando se quebra é que se percebe o quanto essa casca era frágil e que de algum modo imaginávamos que ela nos fazia mais fortes. Ledo engano, a fortaleza, na verdade, está dentro de quem tem coragem suficiente de correr o risco de ser tomado por tolo ao dizer o que sente e a fraqueza reside no interior de quem não sabe acolher o afeto ofertado. E aqui falo do amor em suas mais diversas dimensões e resultados, pois quem ama perdoa, compreende, acolhe, seja o amor romântico, característico dos casais, fraternal quando direcionado aos bons amigos que a vida nos proporcionou ou o amor incondicional que sentimos pelos nossos filhos.

Ser emocionado é um exercício diário de autocura, na medida em que nos expomos de maneira demasiadamente humana como também nos preserva da culpa e do arrependimento pelo sentimento não expressado que depois, pelas vicissitudes da vida, se tornou tarde demais. Por outro lado, certamente a vida não é uma linha reta, não temos uma existência cartesiana e que chato seria se assim fosse, não é mesmo? O amor, por vezes, pode nos causar dor, angústia e sofrimento por mais incoerente que isso possa parecer. Mas é em meio a esse redemoinho emocional que o sentimento expresso evidencia a sua relevância. Afinal, não se cura uma ferida cravando repetidamente uma agulha nela. Pelo contrário, limpa-se o machucado, ministramos a medicação adequada e finalizamos colocando o curativo até que a pessoa esteja totalmente recuperada da lesão. Ou seja, estamos falando de cuidado, proteção e zelo, formas de expressão de amor, formas de ser “emocionado”.

Assim, não esperemos a oportunidade “adequada” ou a “hora certa” pra dizer o que sentimos às pessoas que são importantes em nossas vidas. Sejamos corajosos e não nos sintamos culpados por colocar em palavras e gestos para alguém justamente o que há de melhor em nós. Não sejamos escravos da opinião, covardia ou da falta de maturidade emocional alheia. Tenhamos muito cuidado com a indiferença e o descaso sentimental, pois eles nada mais são que um adeus não dito. E exercitemos a grandeza de espírito e a responsabilidade afetiva nesse dinamismo diário que é a vida humana, demonstrando os melhores sentimentos para com aqueles que são importantes pra nós, seja um cônjuge, pai, mãe, irmãos ou seu bichinho de estimação.

Como diz o poeta contemporâneo Zack Magiezi “Nem tudo são flores, mas tudo é semente”. Então, que semeemos o bem.


Emiliano


sábado, 1 de fevereiro de 2025

Ode ao nosso encontro

 

@maliradias                                   @jessicaaaaam










A minha saudade encontra abrigo

no aconchego do reencontro

e sobre a rede da tua pele

no encanto da tua voz

em cada gesto simples

como flores ofertadas 

preenchidas por pétalas de um doce olhar

e uma alegria indizível aos sentidos

descanso a força do rio de afeto

que o teu enlace me provoca.


Emiliano

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Latitude

Elias Santos               @van_rabsk



 









Esse perfume

tão presente

como um aroma tatuado no ar

reverbera minha memória

revelando as cores

de uma doce lembrança


O barulho da chuva lá fora

me consola dizendo

“vai ficar tudo bem”

mas você ainda está aqui

em cada canto

cada pranto

cada aroma

cada riso

cada olhar

cada instante não vivido

cada abraço sentido

cada segundo provido

e em cada sonho

De um futuro a dois


Emiliano

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Longitude

Elias Santos               @van_rabsk

 












Como uma flor sem sol

ave despida de asas

um constante adeus

nenhum toque na alma

nem carícia

nem olhar

como quem tem sede no deserto

a solidão acompanhada

da matéria ausente

assombra a alma viva do poeta

que em sua sensibilidade

em sua sede de vontade

se esvaziando ao ofertar

o grão de amor

em uma eterna via única

cujo solo teima em não florar

talvez por medo

histórias mal concluídas

verdades escondidas

e feridas de uma vida.


Mas o poeta insiste

ainda acredita no amor

ainda persiste na flor

que regada em água pura

sob a sombra do afeto

ao sabor do vento cálido

se escreva a história

digna de um diário

escrito letra a letra

folha a folha

Vida a Vida

sentimento a sentimento

Poesia a Poesia.


Emiliano