terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Re.Começo

 


Em nossas mãos entrelaçadas

um poema escrito a dois,

Em nosso toque irresoluto

duas cicatrizes se curam,

Em teu olhar se permitiu

dois mundos se encontrarem

Em meu peito mundano, meu coração que te dou.

 

No contato de duas almas que se encontram

Duas vidas que se unem

tornando-se uma só

Somente o gosto da nuvem do céu da tua boca

Aplaca a sede da tua presença em mim.

 

Em nossa estrada

O caminho da incerteza,

Margeando um campo de sonhos, lúcidos, talvez.

 

E então

Quando a hora chegar

Que se semeie vida,

Renovando histórias,

Fecundando sonhos,

Preenchendo almas

E colhendo amor.

 

Emiliano.

domingo, 12 de novembro de 2023

Cartograma



Priscilla Menezes













Converso comigo

Nesse reflexo que duvida da própria beleza


Que são essas marcas no meu rosto?

Que são esses rasgos em minha pele?


O espelho não me mostra a verdade

Ele esconde o que minha memória sabe


Meu rosto tem sinais de trânsito

Proibido conter as lágrimas 

Dê preferência aos sorrisos

Pare de se cobrar tanto

Siga adiante 


Meu corpo tem trilhos de caminhos perdidos onde me achei

E interseções onde me perdi

Estradas pavimentadas de paixões tropeços e motins


A verdade é desconcertante

 

Ninguém conhece o mapa que na pele eu tracei

Ninguém habita a alma que no corpo eu despi

Ninguém além de mim


Essa é a beleza que tenho

Esse é a beleza que vejo

A beleza é o que vivi


Milk

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

ARTESÕES

          



    Eu te ouço falar de amor. De um amor mútuo e incomensurável. Te vejo acreditar em almas gêmeas destinadas um ao outro. Forças divinas e universais conspirando pelo encontro côncavo e convexo, yin yang, positivo e negativo, masculino e feminino.

   Talvez você tenha razão. E afinal o que que eu sei do amor verdadeiro?! Nada.

    Mas tem algo que eu sei sobre o amor....esse amor mútuo que você tanto fala, ele não vem feito pedra no caminho pra você tropeçar. O amor mútuo que você tanto quer é um tecido artesanal, trabalhado a quatro mãos. Duas pessoas decididas a tecer as suas vidas, uma na outra. Os tropeços, as vitórias. Os defeitos, as virtudes. As verdades, as mentiras. As conquistas, as vergonhas. Não é assim?! Cada momento bom e cada momento ruim. O urdume firme e esticado. A trama livre e delicada. Rotinas entrelaçadas voluntariamente. Fio a fio, por cima por baixo, apertar aqui, afrouxar acolá.

    E isso não é nada fácil.

   O amor mútuo te faz sangrar, suar, te deixa marcas, cicatrizes, queimaduras, calos. Já viu as mãos de um cozinheiro? Já viu os pés de uma bailarina? Os dedos de um pianista? Cada um deles se dispôs a viver a dor e o fracasso por um amor.

   Você quer viver o amor, mas está mesmo disposto a coser esse amor? Ou ainda espera que o outro te entregue o amor embrulhado em fita vermelha para você desfrutar? Tecer o amor, pede tempo, paciência e dedicação. Para aprender pontos que não sabemos, pra remendar o que rasgamos, aparar os fios, caprichar nos detalhes do acabamento.
  
  O problema é que, em algum momento, olhamos o que tecemos e esperamos que aquilo nos cubra, nos aqueça, nos acolha, nos faça sentir confortáveis e protegidos. Se não sentimos isso... tudo muda. Não reconhecemos as gravuras da tela, não vemos mais utilidade no tecido, a cala parece frágil e perecível… e então, basta puxar o fio principal, e tudo se desfaz. Foi o que aconteceu com você. É o que está acontecendo comigo.
  
  Eu sei que deixaremos pra trás um pouco de lixo. Frustração, revolta, raiva, tristeza, arrependimento do que se fez... do que não se fez. Por algum tempo apenas ficaremos confusos sobre o que fazer com o que sobrou. Mas, cedo ou tarde, teremos que limpar tudo, guardando o que nos parece útil, jogando o resto fora. E estaremos prontos para, quem sabe, tecer outra vez. É o que eu espero que aconteça com você. É o que eu espero que aconteça comigo.

  No fim, você pode perguntar, onde fica os “feitos um pro outro”, as “almas gêmeas” e os “felizes para sempre”?! Bom, espero que, nessa altura, você também saiba que isso tudo é lindo na ficção, mas na vida real o amor precisa ser urdido e não encontrado.

  Não é um presente dado.

  É um trabalho árduo, belo e gratificante entre dois artesãos.




Milk


domingo, 11 de junho de 2023

Primeiro olhar

Patrícia Marcele



sim

eu sei que vou cair

não é da descida que tenho medo

eu sei o desespero de voar

é que na queda eu desabrocho

brotam em mim asas

asas que cortam o ar

eu posso sentir

são asas que não me abandonam

asas que gritam meu nome

asas da qual

eu não posso fugir


então olhe-me de novo

eu sei que vou cair

mas meus pés não ficarão no chão

por muito tempo

isso eu posso garantir


Milk